"Cada Ideia" é o mais recente lançamento de poesia para o público infantil da Cara de Pavio Livros. O autor Paulo Netho é desses poetas que gostam de colocar vento nas palavras o tempo todo. Costuma dizer que a poesia o salvou da chatice dos dias e também de uma gagueira que o perseguia desde criança. Nesta entrevista, ele fala da sua experiência e do processo criativo que culminou com o lançamento deste livro.
Confira abaixo a entrevista com o autor.
No seu perfil do Instagram você escreveu que a poesia te salvou. Como assim?! Fale-nos um pouco sobre isso?
De fato, a poesia me salvou da chatice dos dias até mesmo de uma gagueira que me perseguia desde criança, entre outras coisas. Em primeiro lugar, preciso dizer que a poesia também me salvou da vida medíocre que se me apresentava. E como isso se deu? A partir do momento em que comecei a ler o que eu mesmo escrevia fui me tornando um leitor melhor e isso me levou a ler outros e mais outros autores. A paixão pela leitura me fez experimentar novos voos. Dessa forma, o meu mundo se alargou e eu escapei da chatice dos dias, da vida insossa que prenunciava o meu destino. Depois, a vontade de poder dizer com as minhas próprias palavras tudo aquilo que pensava e não tinha coragem de expressar, me fez vencer até mesmo aquela gagueira da idade verde. Então, como eu sempre digo: a poesia me deu voz e vez na vida. De mãos dadas com ela, atravessei pontes inimagináveis, andei pela contramão e aqui estou, beirando os 60, cheio de vontade para fazer o que deve ser feito.
De onde vem essa sua vontade de recitar poesias para as crianças?
Nos tempos de Faculdade Medianeira, um querido professor, o Flávio Di Giorgi, me disse que o poeta é aquele que prepara um presente para a humanidade. Essa frase ficou gravada em mim até hoje. Quando comecei a escrever, senti que apenas a escrita no papel não me bastaria, senti uma inquietação, e logo cresceu em mim a vontade de colocar a minha voz naquilo que escrevia e, para tanto, teria de vencer a vergonha de falar em público. Nos anos 1980, comecei a minha jornada de recitador de poesias, e como diria o professor Miltão: eu era o terror dos microfones. Não podia ver um que já ia recitar. Nisso, em 1983, angariei vaias num Circo montado no Festival de Águas Claras, mas também aprendi muito e persisti. Com o nascimento das minhas filhas no começo dos anos 1990, parece que encontrei a minha zona de conforto e passei a escrever e recitar para as crianças. Nessa brincadeira, desenvolvi o meu jeito de me comunicar com elas. Então, escrever e recitar são os presentes que oferto a quem tão amorosamente ouve, se emociona e se diverte comigo. Essa é a minha missão: forrar de alegria as vidas que cruzam o meu caminho.
Cada Ideia, oitavo livro que você publica pela Cara de Pavio, traz poesias que se conversam entre si, a leitura é muito prazerosa. Como foi que essas poesias nasceram?
Boa pergunta. Algumas dessas poesias são inéditas, outras fizeram parte de um livro antigo meu “Nomes de brincar”. O “Cada Ideia” seria um capítulo de um livro que eu pretendia lançar em 2023, cujo o título seria Alhures e Bulhufas – Uma centena de poemas para a infância. Juntamente com o querido amigo e poeta Chico dos Bonecos fiz a seleção dos poemas, mas depois de muitas idas e vindas, chegamos à conclusão de que o melhor seria desmembrar o livro e, em vez, de fazer um só, transformaríamos o projeto em 8 livros. Dois deles já se materializaram “Meninada” que eu mesmo ilustrei e agora o “Cada Ideia”, que foi lindamente ilustrado pela Bruna Assis Brasil. As poesias deste livro que estou lançando estão carregadas de humor como Aritmética, Insônia e Juarez. Outras são resgates de cenas cotidianas: O menino crepuscalado, Devagarzinho e Tão afortunada. Há muitas surpresas e espero que o leitor goste e se divirta com o Cada Ideia.
Você poderia falar um pouco sobre o que define o seu trabalho?
É muito difícil falar de mim mesmo. Prefiro citar neste momento o lindo texto que o Chico dos Bonecos escreveu na apresentação do meu livro “Bolinho de chuva e outras miudezas”, publicado pela Editora Peirópolis, onde ele diz o seguinte: “ (...) De repente, um susto bom: descobri que eu não li estes poemas — eu conheci uma pessoa. Sim, porque eles falam de uma maneira tão simples, e comum, que só uma pessoa de verdade seria capaz de tamanha proeza e surpresa. Uma pessoa única, originalíssima, que é a vocação de cada um de nós. Daí a chuva de imagens e sonoridades e silêncios e palavras criadeiras”.
Então, seguindo os ensinamentos deste Mestre só posso dizer que sempre procuro me comunicar com os meus leitores da maneira mais simples, e se por acaso, as crianças e os seus adultos ficarem de olhos arregalados e queixos caídos enquanto me leem ou me ouvem, terei a certeza de que isso tudo valeu a pena.
Para finalizar, o livro Cada Ideia será lançado no dia 7 de setembro de 2024 na Livraria Casa de Livros. Por que você escolheu esta data? E qual será a programação para este dia tão especial?
A nossa ideia é que neste dia a gente promova um encontro com as pessoas que me acompanham ao longo da vida, bem como com os novos amigos que vão chegar a partir deste lançamento. Escolhi o dia 7 de setembro depois de uma dica da minha filha Mayara que há meses me sugeriu comemorar os meus 60 anos lançando um novo livro. E como sou um pai que ouço muito as minhas filhas, a palavra dela virou lei. Aí, procurei a Livraria Casa de Livros e sugeri a data sem saber se a livraria funcionaria ou não por ser feriado. No entanto, para a minha alegria, a Marcela e Andreia, que comandam a Casa de Livros gentilmente agendaram a nossa festa e nós vamos lançar o Cada Ideia e comemorar o meu aniversário. Escolhi esta livraria porque foi lá que lancei o Coisas de Arrepiar, meu primeiro livro de poesias para crianças em 2000. Então, temos muitas histórias nessa casa tão querida. Sobre a programação, eu e o Chico dos Bonecos vamos apresentar um espetáculo decifradórico, mas vai ter cantoria também com o Salatiel Silva e o violeiro Alberto de Camargo.
Lançamento do livro Cada Ideia
Sábado, 7 de setembro de 2024
(Das 14 às 17 horas)
Onde?
Rua Capitão Otávio Machado, 259 - Chácara Santo Antônio (Zona Sul)
São Paulo - SP - CEP 04718-000
Telefone: (11) 5185-4227